O texto abaixo é de
Luiz Alca de Sant'Anna,
meu colunista do coração ;)
"A poeta Cecília Meireles, que nunca teve as honras que merecia da crítica literária brasileira de sua época, dizia: "Aprendi com a primavera a me deixar cortar e a voltar sempre inteira". A frase definia bem as dificuldades porque passou na vida, com a morte prematura dos pais, o suicídio do primeiro marido e problemas financeiros. De tudo, Cecília conseguia tirar algum resultado para sua obra e saía-se vitoriosa, não perdendo lindo sorriso. Como a própria primavera, em seus cortes. São sábias as pessoas que, passando por tantos talhos nesta existência, conseguem voltar sempre inteiras, ou melhor, intactas, mesmo com as correspondentes cicatrizes. O intacto não diz respeito ao ferimento, aos cortes, mas ao não restar amargura. Há pessoas que por tão pouco se tornam amargas, pesadas, duras e frias. Não há como não admirar aquelas pessoas que, passando por tantas dores, por tamanhos sofrimentos físicos e morais, não se tornam amargas, de um jeito ou de outro mantêm a leveza, o sabor da doçura, mesmo que a tristeza tolde o olhar de vez em quando. Aprenderam, com a primavera e com Cecília, aos cortes do inverno e à inteireza da primavera."